terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

Presidente da comissão de direitos humanos da ALERJ, comenta os últimos acontecimentos no Rio de Janeiro



"Alguns episódios recentes no Rio de Janeiro são muito preocupantes. E a Comissão de Direitos Humanos - e qualquer um que fale sobre direitos humanos - está sendo muito questionada. Não foram poucos os momentos que me perguntarem "E se fizerem mal a sua filha ou seu filho?".
Como pai, eu e qualquer outro, é evidente que eu posso perder a razão, agir de forma violenta. Mas isso nada se confunde com o papel do Estado, o papel do poder. Para isso existe o Estado e a lei. Nesse momento, o Rio de Janeiro vai precisar de um grande debate de bom senso, de equilíbrio.

Nós tivemos o caso da policial Alda Castilho, assassinada brutalmente no Complexo do Alemão. Ela, que tinha 20 e poucos anos, era uma estudante de psicologia e cheia de sonhos, e teve a vida ceifada de forma brutal durante uma ação covarde e inaceitável de um grupo armado. Falei com sua mãe, Dona Maria, hoje, pela Comissão de Direitos Humanos. Infelizmente, a Comissão foi o único órgão que procurou a família da vítima.
Conversei bastante com a Dona Maria e ela me disse que a maior preocupação dela é o equilíbrio emocional da família. Sei que não é fácil retornar a sua vida depois de ser atingido de forma tão violenta com alguém que você ama tanto. É preciso que o poder público dê cobertura, assistência não só material, mas afetiva e psicológica.

Ao mesmo tempo tivemos a noticia de um jovem, que supostamente cometeu um assalto - e ele tem, inclusive, passagens pela policia. É um jovem negro e pobre, assim como tantos, que certamente não teve acesso a educação publica de qualidade e nem a uma moradia digna, o que não justifica quaisquer das suas atitudes, ele tem um nível de responsabilidade sobre isso.
O ato de pegar este jovem, de arrancar um pedaço da sua orelha, arrancar-lhe a roupa, colocá-lo em um poste com um cadeado de bicicleta, em uma imagem que relembra tempos de nossa escravidão é o limite da barbárie. Evidente não sabemos mais de onde parte a maior violência. É neste momento que venho reafirmar a defesa de uma cultura de direitos para todos. Desde o policial que precisa de mais condição de trabalho, a qualquer um destes jovens que sobrou de uma sociedade mercado de trabalho, que nunca teve o direito de ir e vir, de educação. Não é confundindo justiça com vingança que vamos construir uma democracia. Estes dois exemplos devem ser debatidos exaustivamente nas escolas públicas e privadas, no parlamento, nas igrejas, para dizer qual modelo de sociedade a gente quer".



Assista o vídeo com o pronunciamento do deputado Freixo