O advogado Jonas Tadeu enveredou por caminhos
pedregosos e de direção incerta.
Tanto se pode supor que levem a mais desvios
da verdade para servir a seus dois clientes do momento como se pode suspeitar
de objetivos muito maiores.
Ainda bem que o estranhíssimo percurso feito
ontem por Jonas Tadeu foi demarcado por sugestões involuntárias de precaução
dos seus ouvintes, quanto ao que ouviam.
Fossem reconhecimentos de inverdades
ditas nos dias anteriores, fossem respostas burladas, na longa entrevista à
excelente Leila Sterenberg, da GloboNews, estava a mensagem: inverdades de
antes previnem contra as verdades de hoje.
"Ninguém pagará" a Jonas Tadeu pela
defesa de Caio Silva de Souza e Fábio Raposo Barbosa, os causadores da morte de
Santiago Andrade. Por quê? Resposta obscura. Já defendeu outros manifestantes
acusados de violência? Resposta tortuosa.
Não conhecia Caio, só se falaram por
telefone duas vezes sobre fuga e prisão, mas cita até o valor do aluguel pago
pela mãe de Caio. "Fabinho", sim, conhece-o há muito tempo, é amigo
dos seus assistentes. A propósito, aquilo dito sobre Fábio ser tatuador era
mentira, ele mora sozinho, mas é desocupado.
Já que era o capítulo dos desmentidos, outro
dos vários: "Eu sabia desde o começo que Fábio conhecia o Caio".
Apesar de corrigir-se, tornou ainda maior o alegado número de intermediários
até identificar Caio, rapidamente, inclusive com RG, CPF e dois endereços, para
dar à polícia. "Um miserável." "Não no sentido ruim."
Miserável por precisar do que recebe para ir às manifestações. "R$
150."
Foi a entrada no trecho sempre reto, longo,
de aceleração invariável. "Os manifestantes violentos são pagos."
Quem paga? "Vão buscá-los em casa." Quem vai? "Tem organização
por trás deles." Quem? "É preciso investigar vereadores, deputados,
diretórios regionais de partidos." Quem? Quais?
"Minhas conversas
indicaram, é preciso investigar vereadores, deputados, diretórios regionais,
não só do Rio, de São Paulo e outros Estados também." "Vereadores,
deputados, diretórios", "vereadores, deputados, diretórios" -sem
fim. Quem e quais? "Não me disseram."
Jonas Tadeu é reconhecido como muito
habilidoso nas artimanhas próprias da advocacia que pratica. Para quem duvide,
uma credencial de peso, no gênero: já foi advogado de Natalino Guimarães, preso
em 2008 sob acusação de chefiar uma das mais poderosas milícias da Baixada
Fluminense.
Não é provável que acrescentar aos dois clientes atuais a condição
de mercenários convenha à defesa.
Poderia, sim, abrir caminho, por exemplo,
para uma delação premiada, com os dois implicando alguém ou determinadas
pessoas. Mas essa é uma especulação útil apenas para lembrar que mesmo as
denúncias vazias podem ter caroços. Aliás, tê-los é da sua natureza: se não
surgem com caroços, logo aparece quem os ponha.
Cedo ainda, ontem já aparecia no rádio um
comentarista a falar na "extrema esquerda" como a possível pagadora
das arruaças.
Por que não também o possível interesse da direita, que toma
outras muitas providências de organização encoberta para impor-se na sucessão
presidencial? Jonas Tadeu recomenda não responder a certas perguntas.