quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

Há outros “Vinícius” na prisão


Por Marcelo Freixo e Chico Alencar

Será que o caso do ator Vinícius Romão é único no estado do Rio de Janeiro? Quando sai do presídio, esse jovem diz: "existem muitos Vinícius lá dentro". Quero lembrar do que aconteceu com o cabo Sidnei Simão, do Bope. 
Ele, jovem negro, fazia a segurança do diretor do Afroreggae, José Júnior. Em Nova Iguaçu, Simão foi confundido com um assaltante. Só que não foi preso, mas assassinado. E quem o matou disse que achou que ele era um assaltante.

Podemos lembrar o caso do morador de rua Rafael Braga, detido em 20 de junho, durante as manifestações, e condenado a cinco anos de prisão por carregar uma garrafa de cloro e outra de Pinho Sol. 
A Justiça entendeu que ele portava material explosivo. Jovem e negro, ele cumpre pena em Bangu. (Confira a entrevista que fizemos com Rafael Braga: http://goo.gl/4wqMOz)

Todos esses casos passam pelo debate racial. Temos que entender que o racismo não aparece necessariamente numa declaração preconceituosa. O racismo está no funcionamento das nossas instituições. 
Está impregnado em nossa estrutura de poder. Na nossa estrutura de comunicação. No funcionamento do nosso sistema político. É algo muito mais profundo na história do Brasil do que o racismo verbal.

Convivemos com a escravidão em todo o Brasil colônia, em todo Brasil império e não superamos a estrutura escravista na República. A nossa República nunca foi uma coisa de todos e nunca superou as práticas racistas.

Se o caso Vinícius acontecesse em outro lugar, que não a Zona Norte, e com uma pessoa branca, a conduta dos nossos órgãos seria a mesma? Eu duvido. É esse racismo, que muitas vezes não é percebido pelo agente público, que está impregnado em nossa estrutura de poder.

A desigualdade social não se separa da desigualdade racial. Essa não é uma separação possível num país com a nossa história. A nossa desigualdade social se mistura com a nossa desigualdade racial. 
Não basta nos comovermos com a situação do Vinícius. Temos que ir além. E percebermos o quanto o racismo está presente em nossa estrutura republicana. Muitas vezes disfarçado, invisível, naturalizado. Nada deve parecer natural. Nada deve parecer impossível de mudar.