Por Marcelo Freixo e Chico Alencar
Será que o caso do ator Vinícius Romão é
único no estado do Rio de Janeiro? Quando sai do presídio, esse jovem diz:
"existem muitos Vinícius lá dentro". Quero lembrar do que aconteceu
com o cabo Sidnei Simão, do Bope.
Ele, jovem negro, fazia a segurança do
diretor do Afroreggae, José Júnior. Em Nova Iguaçu, Simão foi confundido com um
assaltante. Só que não foi preso, mas assassinado. E quem o matou disse que
achou que ele era um assaltante.
Podemos lembrar o caso do morador de rua Rafael Braga, detido em 20 de junho, durante as manifestações, e condenado a cinco anos de prisão por carregar uma garrafa de cloro e outra de Pinho Sol.
Podemos lembrar o caso do morador de rua Rafael Braga, detido em 20 de junho, durante as manifestações, e condenado a cinco anos de prisão por carregar uma garrafa de cloro e outra de Pinho Sol.
A Justiça entendeu que ele portava material
explosivo. Jovem e negro, ele cumpre pena em Bangu. (Confira a entrevista que
fizemos com Rafael Braga: http://goo.gl/4wqMOz)
Todos esses casos passam pelo debate racial. Temos que entender que o racismo não aparece necessariamente numa declaração preconceituosa. O racismo está no funcionamento das nossas instituições.
Todos esses casos passam pelo debate racial. Temos que entender que o racismo não aparece necessariamente numa declaração preconceituosa. O racismo está no funcionamento das nossas instituições.
Está impregnado em nossa estrutura de
poder. Na nossa estrutura de comunicação. No funcionamento do nosso sistema
político. É algo muito mais profundo na história do Brasil do que o racismo
verbal.
Convivemos com a escravidão em todo o Brasil colônia, em todo Brasil império e não superamos a estrutura escravista na República. A nossa República nunca foi uma coisa de todos e nunca superou as práticas racistas.
Se o caso Vinícius acontecesse em outro lugar, que não a Zona Norte, e com uma pessoa branca, a conduta dos nossos órgãos seria a mesma? Eu duvido. É esse racismo, que muitas vezes não é percebido pelo agente público, que está impregnado em nossa estrutura de poder.
A desigualdade social não se separa da desigualdade racial. Essa não é uma separação possível num país com a nossa história. A nossa desigualdade social se mistura com a nossa desigualdade racial.
Convivemos com a escravidão em todo o Brasil colônia, em todo Brasil império e não superamos a estrutura escravista na República. A nossa República nunca foi uma coisa de todos e nunca superou as práticas racistas.
Se o caso Vinícius acontecesse em outro lugar, que não a Zona Norte, e com uma pessoa branca, a conduta dos nossos órgãos seria a mesma? Eu duvido. É esse racismo, que muitas vezes não é percebido pelo agente público, que está impregnado em nossa estrutura de poder.
A desigualdade social não se separa da desigualdade racial. Essa não é uma separação possível num país com a nossa história. A nossa desigualdade social se mistura com a nossa desigualdade racial.
Não basta nos comovermos com a
situação do Vinícius. Temos que ir além. E percebermos o quanto o racismo está
presente em nossa estrutura republicana. Muitas vezes disfarçado, invisível,
naturalizado. Nada deve parecer natural. Nada deve parecer impossível de mudar.