A nova legislatura do Congresso Nacional começou os trabalhos
neste domingo impondo uma expressiva derrota ao Governo Dilma Rousseff
Com a eleição do deputado Eduardo Cunha, do PMDB, para a presidência da Câmara logo no primeiro
turno. Motivo de dor de cabeça para o Palácio do Planalto ao longo do primeiro
Governo Dilma (2011-2014) enquanto líder do PMDB, Cunha se elegeu com 267 (dez
a mais que o mínimo necessário) após uma campanha que pregava a “independência”
da Câmara em relação ao Executivo. Como consolo, Dilma viu seu candidato no
Senado, Renan Calheiros, também do PMDB, ser reeleito sem sustos.
Após o anúncio de sua vitória, Cunha disse que será o
“presidente de todos” e que, apesar da “tentativa de intervenção do Executivo” nas eleições do Legislativo, “não há da
nossa parte nenhum jugo de retaliação ou jogo dessa natureza”. “Foi uma
campanha muito acirrada e disputada, mas a gente deixou muito claro que ia
buscar altivez e independência do Parlamento. Aqui é o palco para exercer os
grandes debates que a Casa precisa e vai fazer, com certeza absoluta. Nunca
falamos que seríamos oposição, mas falamos que não seríamos submissos, e não
seremos.
Enquanto presidente da Câmara, Cunha, que se indispôs com o
Governo Dilma principalmente durante o desgastante processo de votação da
Medida Provisória dos Portos, em 2013, terá o poder de definir o que irá a
votação na Casa. Sem estar alinhado com o Planalto, apesar de fazer parte da base do Governo, o novo presidente pode causar problemas
à presidenta ao pautar projetos como o do orçamento impositivo, que, se
aprovado, pode levar o Governo a fazer mais gastos do que planeja em um ano planejado para arrocho econômico.
Outro problema potencial para Dilma é que Cunha já se disse a
favor da criação de uma nova CPI da Petrobras, além de ser totalmente contrário
à regulamentação da mídia, uma proposta que o PT tenta emplacar há anos. Outro
risco mais remoto é o surgimento de um processo de impeachment como consequência do escândalo da Petrobras, mas o próprio Cunha já disse que o assunto não está em seu
radar. De qualquer forma, Dilma precisará de disposição para lidar com o novo
presidente da Câmara.
Neste domingo, Cunha, que fez uma campanha intensa Brasil
afora em busca de votos e chegou a alugar o bar de um hotel para convencer os
colegas a apoiar sua candidatura, bateu a candidatura do ex-presidente da
Câmara Arlindo Chinaglia, petista apoiado pelo Governo, que recebeu 136 votos.
Em terceiro lugar ficou o candidato de oposição, Júlio Delgado, do PSB, com 100
votos, à frente do socialista Chico Alencar, que recebeu 8 votos.
Senado
No Senado, também ocorreu o esperado: Renan Calheiros foi
reeleito presidente com 49 votos, contra 31 recebidos pelo único adversário, o
colega de PMDB Luiz Henrique, e apenas uma abstenção. Caberá ao senador, que se
manteve fiel ao Governo durante o primeiro mandato de Dilma, tentar conter, na
medida das possibilidades legislativas, possíveis rebeldias de Cunha na Câmara.
Depois de eleito, Calheiros, que foi surpreendido pela
candidatura alternativa na semana anterior à eleição, agradeceu a renovação da
confiança e se disse “obrigado a redobrar o trabalho, triplicar o ânimo e
quadruplicar a vontade de acertar para corresponder ao crédito que me foi
concedido”. “O PMDB também trabalhará pela estabilidade econômica”, discursou,
fazendo questão de mencionar o também peemedebista Michel Temer,vice-presidente da República.
Segundo o renovado presidente do Senado, “as decisões serão
tomadas de forma coletiva, e nunca serão, como nunca foram, monocráticas”.
“Buscamos o consenso até o limite. O entendimento nunca será supressão da
vontade de quem pode menos em detrimento de quem pode mais. Os próximos anos
ensejarão uma doação mais efetiva”, seguiu.
Calheiros disse ainda que “há muito a fazer” e destacoua reforma política, pela qual prometeu se empenhar “pessoalmente”. O
peemedebista anunciou que vai se reunir com o novo presidente da Câmara já
nesta segunda-feira pra “afinar” uma agenda comum que acelere o processo
legislativo e "contribua para melhorar o ambientes de negócios" no
país.