quarta-feira, 23 de setembro de 2015

ALERJ | Rio de “Janeura” cada vez mais partido

Ninguém pode reduzir a gravidade de um arrastão. Mas o que está acontecendo hoje nas praias, com os grupos de justiceiros é muito perigoso. Mas não quero chamar a atenção sobre os justiceiros neste momento. Quero falar da irresponsabilidade dos discursos das autoridades públicas do Rio de Janeiro.

O governador deu uma declaração que se tornou ainda mais absurda devido ao cargo que ele ocupa. Ele disse que "se tiver um ônibus com adolescentes que não pagaram a passagem, estão descalços, de bermuda, sem documento, leva para a delegacia".

Como o governador diz uma coisa dessas? Não pagar passagem é uma coisa, mas ir à praia descalço e de bermuda? Qual é o delito? Pezão reafirma o discurso sobre as "classes perigosas", que se veste de uma forma, usa uma linha de ônibus determinada e mora num local bem definido.

O justiçamento também é resultado da irresponsabilidade de discursos como esses. É o que fez o secretário de Segurança Pública ao dizer que a polícia está engessada. Não é verdade. A decisão judicial não impede a ação da polícia, e Beltrame sabe disso. O discurso de que o Estado não age é um dos principais argumentos dos que querem fazer justiça com as próprias mãos.

O prefeito Eduardo Paes disse que não vai tratar isso como um problema social, por ser uma questão de polícia. Ele é prefeito de uma cidade. Não é admissível que ele ache que sua responsabilidade é não ter responsabilidade, que tudo cabe à polícia.

É evidente que existe uma questão social, não para justificar um crime, mas para compreendermos a real dimensão do problema. Por exemplo, se pegarmos as regiões administrativas um e dois, que corresponde à Zona Sul e Grande Tijuca, teremos 366 equipamentos culturais para cerca de 1,3 milhão de pessoas. Na região três, na Zona Norte, são apenas 78 equipamentos para 2, 4 milhões de habitantes.

Talvez com esses números o prefeito entenda que esta é uma questão social, sim. A desigualdade no acesso ao lazer mostra como esta cidade é socialmente partida.