Ninguém pode reduzir a
gravidade de um arrastão. Mas o que está acontecendo hoje nas praias, com os
grupos de justiceiros é muito perigoso. Mas não quero chamar a atenção sobre os
justiceiros neste momento. Quero falar da irresponsabilidade dos discursos das
autoridades públicas do Rio de Janeiro.
O governador deu uma
declaração que se tornou ainda mais absurda devido ao cargo que ele ocupa. Ele
disse que "se tiver um ônibus com adolescentes que não pagaram a passagem,
estão descalços, de bermuda, sem documento, leva para a delegacia".
Como o governador diz uma
coisa dessas? Não pagar passagem é uma coisa, mas ir à praia descalço e de
bermuda? Qual é o delito? Pezão reafirma o discurso sobre as "classes
perigosas", que se veste de uma forma, usa uma linha de ônibus determinada
e mora num local bem definido.
O justiçamento também é
resultado da irresponsabilidade de discursos como esses. É o que fez o
secretário de Segurança Pública ao dizer que a polícia está engessada. Não é
verdade. A decisão judicial não impede a ação da polícia, e Beltrame sabe
disso. O discurso de que o Estado não age é um dos principais argumentos dos
que querem fazer justiça com as próprias mãos.
O prefeito Eduardo Paes disse
que não vai tratar isso como um problema social, por ser uma questão de
polícia. Ele é prefeito de uma cidade. Não é admissível que ele ache que sua
responsabilidade é não ter responsabilidade, que tudo cabe à polícia.
É evidente que existe uma
questão social, não para justificar um crime, mas para compreendermos a real
dimensão do problema. Por exemplo, se pegarmos as regiões administrativas um e
dois, que corresponde à Zona Sul e Grande Tijuca, teremos 366 equipamentos
culturais para cerca de 1,3 milhão de pessoas. Na região três, na Zona Norte,
são apenas 78 equipamentos para 2, 4 milhões de habitantes.
Talvez com esses números o
prefeito entenda que esta é uma questão social, sim. A desigualdade no acesso
ao lazer mostra como esta cidade é socialmente partida.