sábado, 7 de novembro de 2015

Descortinando tendenciosidades

Reproduzo a seguir a excelente análise publicada por Chico Bicudo em seu perfil no Facebook:
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"Não tenho procuração para defender A ou B e penso que crimes de qualquer natureza ou 'tamanho' devam ser todos investigados, independentemente do cargo ou status do suspeito, respeitados todos os trâmites e procedimentos determinados pelo Estado de Direito.

Mas vamos lá, um minutinho de atenção para um modesto e simples exercício de análise de discurso. Observem as duas matérias abaixo, publicadas hoje pelo 'Estadão'. Estão na mesma página. 

A notícia sobre o ex-presidente Lula recebe destaque, está no alto, embora as doações já fossem conhecidas.

O título sugere que foi Lula, pessoa física, quem recebeu o dinheiro, e não o Instituto Lula, o que faz muita diferença. A empresa é nomeada - Odebrecht. 
E quem faz a afirmação tem nome também, é a Polícia Federal, estratégia discursiva que pretende garantir legitimidade à afirmação. Argumento de autoridade.

Passemos agora à segunda notícia, que vem abaixo, com menos destaque, embora essa fosse, jornalisticamente, a novidade - pela primeira vez, foram identificados repasses para o Instituto FHC. Notem também que, enquanto lá 'Lula recebeu...', aqui a 'empreiteira doou...'. Faz toda a diferença.

Ações atribuídas a sujeitos diferentes. Além disso, a empreiteira não tem nome, é genericamente chamada de 'empresa'. O destinatário da grana é o Instituto FHC, não o ex-presidente FHC.

E quem chancela a denúncia é um 'laudo', e não mais a PF. Generalidades, de novo. Pergunto - esse tratamento narrativo absurdamente diferenciado e seletivo é casual? Mera coincidência?"